Diante da propagação de casos de infecção por coronavírus nas unidades de saúde de São Paulo, residentes e profissionais da saúde de hospitais públicos temem a escassez de equipamentos de proteção individual (EPIs) para enfrentamento ao vírus e organizam até “vaquinhas” online para arrecadar os insumos.
No Hospital São Paulo – instituição universitária vinculada à Universidade Federal de SP (Unifesp), um grupo de residentes e estudantes da Escola Paulista de Medicina está mobilizado para arrecadar EPIs.
Com 750 leitos, cerca de 4.500 atendimentos ambulatoriais e 1.200 entradas via pronto-socorro por mês, o hospital já estaria poupando itens básico de proteção, segundo profissionais ouvidos por ÉPOCA.
“Falta um pouco de tudo: máscaras, capotes descartáveis, álcool em gel, papel higiênico, toalhas descartáveis e até sabonete nas pias”, diz um dos médicos, que preferiu não se identificar.
“Quem está na linha de frente atendendo os pacientes são os residentes, os enfermeiros, os fisioterapeutas e funcionários da limpeza”, acrescenta.
Segundo o profissional, o hospital já trabalhava com o reaproveitamento de máscaras antes da epidemia de Covid-19, mas com o alto nível de contágio do vírus a situação tende a piorar nos próximos meses. “Estamos reaproveitando a máscara por sete dias, mas não era para isso, na teoria ela é descartável. A falta de EPIs é um dado real, já sabemos que os estoques estão desabastecidos”, explica.
“Além de toda a rotina de trabalho, ainda estamos correndo atrás de equipamentos de proteção. É um estresse muito grande, um clima de esgotamento”, afirma o profissional.
Atualmente, os pacientes internados por coronavírus Hospital São Paulo estão divididos em alas da enfermaria e nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs). Com as doações pela internet, os profissionais esperam crescer estoques de materiais como luvas, máscaras cirúrgicas ou N95, aventais, gorros e óculos.
#VemPraGuerra
O Hospital das Clínicas também iniciou uma “vaquinha” para arrecadar dinheiro que auxilie na luta contra a doença. Eles tentam alcançar a marca de R$ 10 milhões.
Por meio da campanha #VemPraGuerra, residentes do HC querem comprar 40 mil máscaras N95, 670 mil máscaras cirúrgicas, 6,7 mil litros de álcool em gel, 45 mil aventais, 211 mil toucas e três máquinas portáteis de raio-x.
Os equipamentos seriam suficientes para dois meses, segundo projeções de aumento nos atendimentos. “A demanda desses insumos esgotou os estoques e acarretou o aumento exponencial dos preços. No entanto, para garantir a integridade, saúde da equipe, prevenção ao contágio, a manutenção da quantidade e qualidade dos atendimentos, estima-se um crescimento de mais de 400% na demanda desses materiais. A situação pode se tornar dramática”, alerta uma mensagem da campanha.
Ao lado do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, o HC está na linha de frente dos atendimentos a pacientes infectados. Antonio José Rodrigues Pereira, superintendente do hospital, explica que o HC tem, atualmente, 20 mil funcionários trabalhando para manter a estrutura do hospital de pé.
“Lógico que aumentando o número de leitos, o consumo também subirá. (A campanha) é uma iniciativa dos residentes do HC e de outras pessoas que quiseram ajudar”, conta.
O Hospital das Clínicas realiza uma operação de guerra e está liberando todos os 900 leitos do Instituto Central para atender os casos de coronavírus. Segundo o governo de São Paulo, 200 leitos já estão prontos e 700 devem ser liberados até 10 de abril.
De acordo com Pereira, não há desabastecimento no hospital, apesar da alta demanda de insumos.
Procurado, o Hospital São Paulo informou, em nota, que segue protocolos dos órgãos de saúde. Disse, ainda, que as máscaras N95 “podem ser guardadas e reutilizadas pela mesma pessoa”.
“Devido ao momento delicado de crescimento no número de atendimento de casos de coronavírus, não é possível dizer que há hospital tranquilo referente aos EPIs. Não há disponibilidade de fornecimento de máscaras e demais EPIs em quantidade”, completou.
FONTE ORIGINAL DA MATÉRIA: Época